
Ela pode estar no cosmético que você usa, na cerveja que seus amigos bebem, no adubo orgânico que a sua avó usa na horta de casa, em um medicamento, nos alimentos e em muitos outros lugares. A Biotecnologia é o uso de qualquer ser vivo ou parte dele para obter bens e assegurar serviços.
– Uma junção de conceitos da Biologia, Química e Engenharia! –
Nesse post da Série Profissões, você descobre como é a profissão, o mercado de trabalho e as áreas de atuação do biotecnologista. Quem nos ajudou nessa descoberta foram os porto-alegrenses Mariana Ritter Rau, 23 anos, e Luiz Henrique Marques Moraes, 25 anos. Ambos são do curso de Biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mariana é formada desde o final de 2015. Já Luiz está indo para o terceiro semestre da Graduação.
Do Mundo de Beakman à escolha da profissão
Uma das primeiras lembranças de infância da Mariana era de assistir ao Mundo de Beakman (programa obrigatório para toda criança que viveu os anos 1990 e amava ciência) e tentar copiar os experimentos do professor Beakman em casa. “Já tinha uma afinidade e um encantamento pela ciência desde cedo”, lembra Mari.
Na hora de escolher a profissão, ela já estava focada na área. Foi quando descobriu um técnico em Biotecnologia no Instituto Federal do Rio Grande do Sul. Decidiu pesquisar mais sobre o curso, quando encontrou a graduação da UFRGS.
Essa é a Mari, em 2011, caloura da Biotecnologia da UFRGS! 🙂 Arquivo pessoal.
O Luiz também partiu para a pesquisa: foi olhar o currículo da Biotecnologia e encontrou várias cadeiras que se relacionavam com Biologia e Química Orgânica, suas disciplinas preferidas no colégio.
“Eu pretendia cursar Química e me especializar em Bioquímica, mas daí um amigo me apresentou a Biotecnologia e eu gostei muito.”
Luiz (o mais à direita da foto) durante o trote de entrada na Faculdade. Arquivo pessoal.
A Mari entrou para o curso quando ele ainda estava engatinhando. Sua turma foi a segunda de Biotecnologia da UFRGS. “Eu achava que conhecia a profissão antes de entrar no curso, mas, ao longo da Faculdade, a imagem que eu tinha foi se transformando, se complementando”, conta a porto-alegrense.
Um início complicado
A Mari e o Luiz concordam que o início do curso não é nada fácil! São sete matérias obrigatórias: Introdução à Biotecnologia, Biologia Celular, Química Geral Teórica, Química Geral Experimental, Cálculo Diferencial e Integral, Fundamentos de Química Inorgânica e Introdução à Ecologia para Biotecnólogos.
Luiz apresenta para vocês as grandes companhias dele no primeiro semestre! Arquivo pessoal.
– Nos primeiros dois anos, as disciplinas são mais gerais e servem para nivelar os conhecimentos em Biologia, Química, Física, etc. –
A metade final do curso é quando o pessoal se divide nas ênfases. Na UFRGS, o estudante deve optar entre Bioinformática e Biotecnologia Molecular. Resumidamente, enquanto Bioinformática foca na parte de programação e algoritmos, Biotecnologia Molecular envolve mais práticas e discussões de artigos, explica Mariana.
A biotecnologista em um dos laboratórios de pesquisa da Universidade. Arquivo pessoal.
O Luiz contou que a adaptação ao clima da Graduação demorou para acontecer. “Foi no último mês de aula do primeiro semestre, com um monte de provas acumuladas e matérias pra estudar.”
Luiz (na frente, à direita) com os colegas de turma! Arquivo pessoal.
Nossos entrevistados destacaram que o curso exige sim muito estudo, o que faz o pessoal se apavorar um pouco de início. Segundo a Mari, é por isso que há uma taxa de desistência tão grande.
“Uma vez eu e meus colegas fizemos os cálculos por cima e descobrimos que de 30% a 40% do pessoal desiste.”
Estágios: por que fazê-los?
Eles estão presentes desde o início do curso de Biotecnologia. A Mari conta que o pessoal pode pegar estágios de iniciação científica a partir do primeiro semestre. “Todo mundo faz estágio. Complementa muito o que vemos nas aulas. Alguns conceitos a gente acaba vendo primeiro no estágio e só depois vai ver nas aulas.”
A Iniciação Científica possibilita a participação em eventos e feiras, onde há prêmios aos melhores trabalhos. Aí está a Mari com um dos dela! Arquivo pessoal.
Segundo a Mari, a carga horária do curso é propositalmente reduzida para incentivar os alunos a trabalharem nos laboratórios da UFRGS ou em outros lugares. Ela trabalhou em três áreas bem diferentes. Primeiro com micro-organismos para a produção de bioetanol. Depois com compostos bioativos de plantas nativas do Sul do Brasil. E, por último, com micro-organismos para a produção de óleo para síntese de biodiesel.
A Mari começou a estagiar no segundo semestre da Faculdade. Arquivo pessoal.
Há também o estágio curricular (aquele que é obrigatório). Em Biotecnologia, ele dura um semestre. Mari escolheu fazer o dela na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.
“Trabalhava com seleção de micro-organismos para a elaboração de vinhos. Foi bárbaro!”
Abraçada em um tanque de fermentação! <3 Arquivo pessoal.
A Mari lembra que os colegas fizeram seus estágios em lugares bem diferentes. Alguns optaram por empresas, como a Cristália, que desenvolve e produz medicamentos biológicos, e a Regenera Moléculas do Mar, que pesquisa o potencial biotecnológico da biodiversidade marinha. Outros foram fazer seus estágios em universidades de fora e assim por diante.
Um universo de possibilidades
Depois de formado, o biotecnologista tem um universo pela frente! Além de atuar em ramos da Biotecnologia, o profissional pode realizar as funções que são partilhadas com biólogos, farmacêuticos, químicos, profissionais da área ambiental e biomédicos.
Na Biotecnologia, o profissional pode seguir diferentes ramos. Os principais são:
- o vegetal, onde vai trabalhar com o melhoramento genético de plantas;
- o ambiental, onde pode ajudar a minimizar a poluição emitida por uma empresa, por exemplo;
- o de saúde, voltado para a busca de novas terapias e medicamentos para doenças;
- o industrial, onde se trabalha diretamente com aplicações industriais de organismos;
- bioinformática, aquela onde se desenvolvem e empregam soluções de informática para problemas biológicos, como softwares para a indústria farmacêutica, por exemplo.
Mari apresentando o Trabalho de Conclusão de Curso. Arquivo pessoal.
O Luiz ainda não escolheu sua especialização, mas gosta muito da parte de Engenharia Genética. “Se eu tivesse que definir em uma palavra o porquê de ter escolhido Biotecnologia, seria a Edição Gênica (ramo que trabalha com mudanças no DNA)”, conta.
A carreira que é mais comum ver o pessoal seguir depois da formatura, porém, é a acadêmica. Muitos biotecnologista fazem Mestrado e Doutorado e desejam dar aulas. Mas a Mari acha que o curso ainda é novo e, no futuro, isso pode mudar.
“A Biotecnologia ainda não é uma profissão regulamentada, apesar de já existir um projeto de lei tramitando para que isso aconteça em breve.”
O problema da falta de regulamentação é que não há piso para a categoria, o que faz os salários (principalmente dos recém-formados) não serem tão atrativos.
Despoluindo o ambiente e ensinando a fazer cerveja
“Formei em uma quarta e na segunda já estava trabalhando”, comemora Mari. Hoje, a porto-alegrense trabalha com soluções ambientais. Basicamente, o trabalho é visitar indústrias e outros clientes que estão tendo problemas com o despejo de poluentes na natureza. Mari entende os problemas e oferece soluções para diminuir o impacto ambiental, utilizando a biorremediação.
Em uma das visitas em indústrias. Arquivo pessoal.
Mas não para por aí! A Mari também tem uma startup, chamada Lève Cultura Fermentativa. No início de 2016, ela e mais duas amigas biotecnologistas (que trabalham em cervejarias) montaram uma equipe para entrar na Maratona de Empreendedorismo da UFRGS. A ideia da startup é propagar e fornecer levedura para cervejeiros gaúchos.
“A levedura é a estrela da produção cervejeira. Produz aromas, sabores e o álcool. Essa parte do bioprocesso é muito importante para a fabricação do produto.”
Mari (à esquerda) e as companheiras da empresa de inovação tecnológica que criaram juntas, a Lève. Arquivo pessoal.
Divulgação científica
Além de exercer a Biotecnologia na prática, Mari também queria trabalhar na divulgação de informações sobre Biotecnologia e ciência. O sonho se tornou realidade quando ela foi chamada para ser colunista de um blog que fala sobre o biotecnologista, chamado Profissão Biotec. A gaúcha também é editora de outro blog, o Cientista Beta, que tem como objetivo incentivar jovens cientistas de várias áreas da ciência, ainda no Ensino Médio.
Dicas, pra que te quero!
Curtiu o post e pensa em fazer Biotecnologia? Se liga nas dicas do Luiz e da Mari pra você!
- Antes de escolher Biotecnologia, procure entender o que é o curso, para ver se é isso mesmo o que quer;
- Pesquise informações sobre o curso em redes sociais e blogs. O blog Profissão Biotec pode ser um bom início;
- Tente conversar com profissionais de Biotecnologia para entender o que eles fazem;
- Estude (no mesmo dia, se possível) os conteúdos que viu em aula;
- Não desista nos primeiros semestres! O curso é bem difícil, alguns professores não têm a didática que você espera, mas depois tudo melhora;
- Faça estágios desde o início, é maravilhoso aplicar as teorias na prática da profissão;
- Não esqueça de conhecer pessoas e fazer contatos. Você pode precisar deles no futuro;
- Não confunda! Quem faz a Graduação em Biotecnologia é biotecnologista. O biotecnólogo é o técnico em Biotecnologia, e o engenheiro de biotecnologia e bioprocessos é quem faz a Engenharia da área. 😉